(28.08.2006 - 08h48 Bárbara Wong - Jornal PÚBLICO)
Falta menos de um mês para as aulas começarem e com elas a ginástica que os pais fazem para conseguir conciliar todas as actividades em que os filhos "têm" de participar. Além da escola há a natação, a música, as explicações, os escuteiros... Os especialistas têm alertado para a conveniência de não sobrecarregar demasiado as crianças com actividades extra-escolares e defendem que os mais novos precisam de tempo para eles - quanto mais não seja para simplesmente brincarem.
Falta menos de um mês para as aulas começarem e com elas a ginástica que os pais fazem para conseguir conciliar todas as actividades em que os filhos "têm" de participar. Além da escola há a natação, a música, as explicações, os escuteiros... Os especialistas têm alertado para a conveniência de não sobrecarregar demasiado as crianças com actividades extra-escolares e defendem que os mais novos precisam de tempo para eles - quanto mais não seja para simplesmente brincarem.
Mas um estudo divulgado recentemente vem desvalorizar essa recomendação e avança que as actividades em causa podem ser importantes para promover a auto-estima e ajudar a melhorar os resultados académicos dos miúdos."Os meios de comunicação, bem como os populares livros sobre como educar as crianças sugerem que as suas vidas são uma constante correria de stress e pressão criados, em parte, pelas actividades organizadas em que participam", refere o estudo, coordenado pelo académico da Universidade de Yale Joseph Mahoney, que desmente esta visão. Segundo este trabalho da sociedade norte-amerciana para o estudo do desenvolvimento infantil (SRCD) - desenvolvido por Mahoney, Angel Harris (da Universidade de Texas) e Austin e Jacquelynne Eccles (da Universidade do Michigan) -, as actividades extra-escolares permitem que as crianças aprendam a organizar o seu tempo e até que conquistem novos amigos. Além disso, ajudam-nas a melhorar os seus resultados académicos e a ter uma relação de qualidade com os pais. Mas há mais: entre estes jovens a percentagem de fumadores ou de consumidores de drogas e mais baixa.
O estudo foi feito nos EUA e acompanhou, ao longo do tempo, 695 jovens, de diferentes estratos sociais, desde a infância até à idade adulta. Anualmente a equipa de Mahoney entrevistava-as; os últimos contactos foram feitos aos 20 e aos 24 anos.Inicialmente foi possível identificar quatro grupos mais ou menos homogéneos, tendo em conta o comportamento e os resultados académicos das crianças. Com o passar dos anos, a configuração desses grupos foi mudando porque muitos jovens abandonavam a escola ou envolviam-se em actividades criminosas. Cedo a equipa de Mahoney foi percebendo que a participação em actividades extracurriculares estava associada a reduzidas taxas de abandono escolar precoce ou participação em crimes.Mais horas a ver televisão"Há indicadores de bem-estar [em relação às crianças que têm actividades]. Devemos por isso estar preocupados é com os jovens que não participam em actividades organizadas", defende Joseph Mahoney, citado na página da SRCD na Internet.
O estudo conclui também que as actividades organizadas não ocupam tanto tempo quanto isso e que os miúdos perdem mais horas frente ao televisor ou a jogar. Em média, as crianças entrevistadas gastavam cerca de cinco horas semanais em actividades extracurriculares como o desporto, música ou as artes, mas apenas entre três e seis por cento dos inquiridos despendiam 20 ou mais horas nessas ocupações. No grupo estudado havia 40 por cento de elementos que não faziam qualquer actividade. "O bem-estar dos jovens que não participam em actividades organizadas é menor quando comparado com o daqueles que participam", observa ainda Mahoney, citado pela BBC on-line.Há ainda o mito de que os jovens participam em actividades extra-escolares por pressão dos pais ou de outros adultos. O estudo revela que não. Eles participam "porque querem". Mesmo os que têm 20 ou mais horas semanais de actividades mostram que se sentem mais enquadrados do que os que não fazem qualquer actividade.